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As cores das flores

Eu posso com uma coisa dessa? Esse vídeo retrata uma parte muito curta de vida de uma criança cega convivendo com crianças videntes. A tarefa de casa dele é falar das cores das flores. Com essa tarefa aparentemente simples, ele vai buscar uma forma de conhecer o que são as cores e as flores. Mas ele ultrapassa a barreira da física, que limita as cores como uma frequência de raios que são refletidos, e da biologia que explica através dos fotorreceptores da retina. Ele busca as cores nas coisas em que deixamos de perceber ou esquecemos pela loucura da nossa rotina.

Além disso, esse vídeo divulga um projeto na Espanha que busca integrar crianças cegas em escolas regulares, o que é lindo! Não é fácil, mas como podemos ver também no vídeo, as crianças (colegas) podem contribuir muito na educação dessas crianças, adaptando os conteúdos e ajudando a compreensão, a socialização etc. Isso reflete na formação de crianças diferentes da criança que fui, que sabia da existência dessas pessoas e conviviam com elas em harmonia. O vídeo é riquissimo porque nos traz também exemplos de adaptações simples que podem ser feitas para melhorar a didática de aprendizagem da criança, como os livros infantis com alto relevo e o uso de uma máquina de escrever em Braille, além do sistema que possibilita cegos usarem os computadores/internet.

Eu achei que valia a pena divulgar esse vídeo. Queria agradecer a Rafa, minha amiga, que lembrou de mim quando assistiu e compartilhou ele para mim.

Camila


“Dá cores a quem o toca”

Quem estava sintonizado hoje na rádio senado (103.3 MHz) perto de meio dia, pode ouvir à palavra de um rapaz, que eu infelizmente não consegui pegar o nome completo, apenas Antonio, porque eu não estava escutando desde o início do programa. Entretanto, a parte em que consegui ouví-lo, pude receber de forma bem didática as informações que ele considerava importante falar a cerca do sistema Braille.

Como eu havia falando no post da caminhada em homengem a Louis Braille sobre a importancia, entretanto não me prolonguei muito querendo deixar somente registrado algo sobre esse meio de comunicação. Eu sempre achei genial a idéia que ele teve de criar combinações de 6 pontos com  instrumentos simples e que a partir disso ele literalmente conseguiu inserir o cego ao mundo dos “normais”. Tô para descobrir o que é normal.

O Antonio da rádio senado falou sobre o quanto o braille é desinteressante aos olhos de quem vê, justificando essa afirmativa com a provável falta de informação que existe em uma folha em branco e sem cores. Com felicidade completou o raciocínio dizendo que o braille pode não trazer cores convidativas ou traços de tinta, mas ele traz as cores a quem o toca. Falou de várias coisas. Tá dificil agora conseguir colocar uma ordem em tantas palavras que ele falou, mas uma delas que achei incrível, foi que ele fazia questão de ensinar braille a quem trabalhava com ele. Ele disse que não tem coisa mais agradável do que receber recados da secretária (que não é cega) em braille, a maravilhosa independencia de não precisar que ninguém leia algo para ele. Comentou também de uma ida ao supermercado na área de frios, onde ele estava procurando uma pizza. A pizza que ele pegou foi a que tinha a marca, o sabor, o peso e o produto escritos em braille. Podia não haver todas as informações de tinta em braille, mas ele comprou a pizza que justamente havia as informações básicas do produto e privou a compra dele para uma empresa que de alguma forma se importa com esse público consumidor.

Um mal exemplo estou eu aqui, querendo defender os direitos de acessibilidade a informação e tenho um blog no qual não é acessível ao público com deficiência visual. Prometo que tratarei de ver como eu poderei resolver este problema, mas por hora é isso que eu posso lhes oferecer.

Quando trabalhei em um projeto com mais 5 pessoas ensinando natação para deficiêntes visuais, eu fiquei pasma com a consciencia corporal e percepção de ambiente dessas pessoas. Era incrível como elas moravam tão longe de onde acontecia a aula e eles chegavam lá. Nas aulas de natação quando a gente falava o movimento e eles conseguiam visualizar e repetir o movimento. Não existe palavra que descreva a satisfação que eu tenho em trabalhar com esse público, eles são meus professores, essa é a grande verdade. É um aprendizado constante, uma desconstrução. A mesma coisa que acontece com quem acaba fatalmente adquirindo alguma deficiência, reviver, é o que eu passo constantemente. Aprendo novas maneiras de viver.

Eu sempre considerei a deficiência visual a deficiência que é mais prejudicada pelo difícil acesso às coisas mais básicas que um ser humano pode ter necessidade na vida moderna. Internet (que é o grande link do mundo inteiro), livros, jornais, preços, cardápios, contratos.. Eu cito tudo isso, mas é claro que existe, mas a escala é muito reduzida. Vocês sabiam que existe uma impressora que imprime em braille? Isso é uma máquina de escrever em braille e Isso é uma máquina que imprime em braille. Isso que é acessibilidade.. o preço disso tudo é que não deve ser tão acessível assim.. alguém tem idéia de valores?

Bom, eu poderia me prolongar muito falando sobre isso, mas eu to sentindo a necessidade de me poupar para novos posts. Eu indico vocês visitarem o site do Instituto Benjamin Contant. Lá é acessivel a qualquer um e quem conhecer alguém cego que queria ter livros didáticos para estudar, eles disponibilizam. Além deles, existe aqui na nossa cidade, o Instituto dos Cegos que procurando no Google dá para se orientar e saber as atividades que existem por lá. Infelizmente eu não achei o site deles, se é que eles têm. Quem souber, por favor avisar via comentário.

Deixo alguns vídeos de esportes praticados por cegos, mas vale ressaltar que existem diversas outras formas de estimular a sensibilidade dos cegos, seja com escultura em argila ou fabricação de potinhos feitos com rolinhos de jornal, trabalhos manuais em geral etc.

É só clicar nas palavras grifadas, que são links:

Futebol de 5,

Goalball,

Judô,

Esqui,

Natação

são alguns exemplos de esportes entre outros que dá para conferir no site do IPC ou do CPB, que tem no favoritos do blog. Essas pessoas consegue o que muita gente não acredita ser possível.

Camila

PS aleatório:

Quem ainda não assistiu o filme “O livro de Eli”, vale a pena. Se conferir vai poder entender porque a abordagem dele aqui no blog. Recomendo!


III Caminhada Louis Braille – Sesc ativo

Foto ilustrando várias pessoas que participaram do evento caminhando pela avenida beira-mar de FortalezaOlá! Hoje pela manhã eu me sentei na frente do computador disposta a fazer um post sobre como o cuidado exagerado das mães e pais às vezes pode atrapalhar no desenvolvimento das habilidades motoras da pessoa com deficiência.

Cegos caminhando juntos, se guiando com a bengala

Entretando esse post vai ficar para depois. Eu tive a idéia de ligar para a minha amiga Marília que trabalha no SESC com natação adaptada para saber se eu poderia ir lá amanhã pela manhã dá uma olhada nas atividades que acontecem lá. Só que assim que eu falei com ela, ela estava na Beira Mar em uma caminhada em homenagem a Louis Braille, O Cara que inventou aquela combinação de pontinhos milagrosas e conectou os cegos ao mundo! Peguei minhas coisas e fui correndo pedalando para lá!

Palavras de Louis Braille ao pai: “sem livros o cego não pode aprender”. E ele apenas não falou, mas fez acontecer! E é por isso que ele é O Cara e Hoje é o aniversário dele. Parabéns, Louis Braille!

pessoa com deficiência física também participando da caminhada

Nosso querido São Pedro ajudou e desviou a chuva que estava vindo em nossa direção e ainda poupou a gente daquele solzinho poderoso de 9 horas da manhã.

foto tirada debaixo para cima, pegando os passos das pessoas durante a caminhada

 A caminhada foi ótima, mas na minha opinião poderia ter mais gente participando. Deveria ter umas 200 ou 300 pessoas, mas a eu acho que deveria ter uma repercussão maior, apesar que foi na Beira Mar e isso já um ótimo indicativo de que vai chamar atenção, por sempre ter muita gente lá e tinha imprensa e tudo mais.

Pessoa com deficiênca intelectual pousando sorrindo para a câmera

Tinha não só cegos, como também pessoas com deficiência intelectual e física acompanhando. O calçadão tava seguro e posso afirmar isso por que eu sou uma garota e estava com bicicleta em mãos porque não encontrei a tranca e uma câmera batendo milhares de fotos e não vi nem sinal de nenhuma ameaça.

Ok,  durante a caminhada, havia um carro acompanhando as pessoas com um alto falante, que se alguém de alguma instituição quisesse falar sobre conscientização ou algo do tipo poderia ir lá soltar o gogó.

Eles falaram sobre várias coisas que são muito importantes!

A respeiro de cardápios de restaurantes em braille. Sério, se vocês forem pensar em tudo que o cego deixa de saber pelo fato de ninguém se importar com isso.. são muitas! Imagine só as coisas mais básicas: Preços de coisas em lojas e shopping, acesso a páginas na internet, à livros da faculdade, sei lá, imagina um livro de… psicologia, física, química em braille… além de romances clássicos, livro eróticos, revistas, jornais, cardápios, relógios, panfletos que são distribuídos na rua, cartões (de crédito, de visita, de empresas), convites, contrato de bancos para abertura de contas, papeis de cobrança de fatura de cartão de crédito, correspondências em geral, aparelhos eletrodomésticos, pracinhas e calçadas com referencia para a bengala e por aí vai! Pense nisso!

foto que aparece um cego fazendo massagem em uma cadeira própria durante o evento

Continuando: Assim eu que eu cheguei na caminhada recebi uma blusa do evento, o que eu acho ótimo! Dá pra ver que todo mundo tá igual. Além de um panfletinho com informações sobre o Louis Braille e o que ele fez e o porque daquela caminhada além de dizer quem estava organizando, que era o SESC ativo.

Ao final todo mundo teve direito a lanchinho e bandinha de forró ao vivo tocando pra sacudir o esqueleto. Logo aqui embaixo tem dois vídeos que eu gravei da caminhada para ter uma idéia de quantas pessoas tinha e do povo dançando o forrozão na quadra da beira-mar comendo um lanche reforçado! Detalhe, ainda tinha direito a uma fast massage que quem fazia? os próprios deficientes visuais/cegos. Exatamente, se você achava que eles que recebiam a massagem, é exatamente o contrário. Viu só? quem pode, pode!

Balançando o esqueleto!

Camila