As mãezonas

As mãezonas muitas vezes -eu diria a graaaande maioria das vezes- é quem fica responsável por cuidar do filho quando este nasce com alguma deficiência, principalmente nas populações com menos condições financeiras. São elas que se viram nos 30 e fazem acontecer tudo, carregando com ela a responsabilidade de cuidar da casa, cuidar de outros filhos que muitas vezes tem e do filho com alguma deficiência com um carinho que só mãe que é mãe sabe.

Eu não sou mãe, e nem sei tenho a pretensão de achar que eu sei que amor é esse, que eu nem me arrisco a dizer. Mas a gente pode imaginar a dificuldade que é administrar tudo isso, e ainda ter jogo de cintura para lidar com as fases depressivas que podem acontecer dos filhos ou do sentimento de culpa que algumas delas sentem e ter que levar tudo em frente, lidando com tudo isso e ainda ser firme, forte, corajosa para enfrentar os preconceitos, ih.. e por aí vai.

São uns verdadeiros anjos que cuidam de seus filhos com o esmero, amor, atenção, paciência e dedicação que quase ninguém no mundo tem. Isso é lindo demais. Lindo para quem ver, mas só elas sabem o quanto que é difícil a vida de mãe-pai, a vida de mãe que é mãezona. Admiro muito mesmo. Não acho justo esse sentimento de culpa que sentem, porque o que aconteceu aconteceu e o que é para fazer agora é enfrentar a vida como ela é, tentando entender que são necessárias adaptações. Tudo bem que a própria infraestrutura da cidade não ajuda muito na grande maioria das vezes, mas é saber a realidade e tentar se encaixar nela lidando com as dificuldades que existem com muita garra. O que acontece, é que esse mundo é muito cruel, e ninguém melhor do que a nossa mãe para nos proteger de tudo e de todos que podem nos parecer uma ameaça. E a nossa mãe sabe disso. É ela que detém nas mãos dela o poder de nos afagar nas horas mais difíceis, parecendo até que ela é quase um ser indestrutível. Mais que isso, elas tomam esse cargo para elas e se tornam os braços e pernas -de quem não tem um ou outro.

É aí que mora o perigo. É a tênue distancia desse cuidado que é para se ter e o cuidado excessivo que pode ser bom ou ruim para o desenvolvimento dos filhos que tem alguma deficiência. É lógico que existem as pessoas que têm um comprometimento muito grande e realmente é totalmente dependente, mas ainda assim se existe uma possibilidade de deixar agir sozinho, nem que seja para escolher com os olhos o que quer comer, é para deixar que isso aconteça.

Não quero dizer que é ISSO que é PARA SER FEITO e ponto final. Até porque não existe receita de bolo e não estou lidando com estatísticas precisas de quantas mães que acabam cuidando do filhos sozinhas etc. Só falo isso com a pouca experiência que eu tive convivendo com pessoas com deficiência e seus relatos pessoais.

O cuidado excessivo pode fazer o filho com deficiência ficar dependente de uma forma que ele poderia não ser. Ele poderia tomar banho sozinho, se deslocar por alguns cantos sozinho, fazer o prato do almoço, transferir da cadeira de rodas para o banco de um carro sozinho ou pelo menostentar aprender a fazer isso. O sentimento de culpa da mãe, pode vir acompanhado dessa coisa de ela achar que ele necessita dela para tudo, quando na verdade, existe casos que você pode fazer com que o filho se sinta capaz de fazer várias coisas sem precisar de ajuda de ninguém. E esse exercício de se deslocar na cadeira sem que seja com alguém empurrando ou se transferir de um canto para o outro sem que alguém ajude; se iniciado esse trabalho precocemente (não que seja tarde para iniciar HOJE), os músculos necessários para que essas tarefas sejam feitas vão começar se ser estimulados e se desenvolverem. Isso é bom! Cadeira de rodas motorizada, por exemplo é uma alternativa para quem tem pouquíssima mobilidade (ou muito comprometimento) ou pra quem realmente se desloca muito. Entretanto o uso da cadeira motorizada em pessoas que a deficiência não atinge os membros superiores é desnecessária. É importante que os braços sejam trabalhados. Isso é uma estratégia de melhora da funcionalidade da pessoa com deficiência.

Não deve ser fácil deixar que seu filho sinta desconfortável em determinadas situações, mas é preciso pensar no bem-estar dele como um todo e não somente privá-lo daquilo que você acha que é ruim naquele momento, porque mais na frente ele vai precisar sentir esse desconforto e talvez seja pior do que estimulá-lo desde cedo.

Uma alternativa que eu acho muito válida é colocar em um esporte ou atividade física, seja coletiva ou individual desde cedo. No esporte coletivo existe o estímulo de ter vários semelhantes em uma mesma situação juntos, lidando com os mesmos problemas e isso seja confortante. E o esporte individual é desafiador para o próprio indivíduo. Então, fica a dica. Eu sou completamente suspeita, mas é uma alternativa eficaz. Acredite.

Camila

Eu deixo para vocês um trecho no programa Brasileiros que foi ao ar ano passado exibido pela TV Globo. Esse programa aí mostra uma mãezona e uma irmãzona. Infelizmente foi isso que eu consegui encontrar no youtube. Antigamente tinha o programa todo em partes I,II,III e IV. Vai terminar meio que do nada, mas é isso aí. Espero que gostem.


6 respostas para “As mãezonas

  • Lorena Queiroz

    Adorei o post!
    Pego o onibus que passa em frente ao projeto MÃO AMIGA e fiquei muito surpresa quando vi os meninos, que estavam juntos com suas respectivas mães, descendo do onibus sozinhos, o porteiro vinha até a porta do onibus para ajudar algum mais gordinho ou que tivesse alguma dificuldade pra descer os degraus do onibus, que são altos, mas desciam e entravam na escola sozinhos, foi muito bacana ver isso, e as mães seguiam…
    Todos nós merecemos cuidar de nós mesmos, mesmo que nas mais simples atitudes.

  • Aninha

    acho muito legais teus posts, mila.. imagino quão genial vai ser quando alguém que realmente convive com uma pessoa com algum tipo de deficiência passar por aqui, porque o jeito que tu escreve e o que tu expõe dá pra se identificar demais. pode até ser que isso já esteja acontecendo, eu nem sei né. hehe.
    vi um vídeo muito bom de um menininho que nasceu sem os braços e as pernas e foi adotado por uma família americana. o guri faz MUITA coisa sozinho, nada, escreve, pinta.. tu já viu? se não, tem aqui o link: http://www.youtube.com/watch?v=EJQOjD1GAF4achei fantástico e prova tudo isso que tu tá dizendo! 😉
    te ama.

  • Aninha

    opa.. o “achei” ficou colado no link. só pra ficar mais fácil: http://www.youtube.com/watch?v=EJQOjD1GAF

  • sarah

    Mila, adorei o post! Sempre acho que tu consegue se expressar tão bem! Esse lance ai, a gente ja conversou uma vez, e é realmente importante as mães darem uma certa liberdade pros filhos, porque mesmo que elas nao achem que seja necessário, no futuro, vai ser, ele vai acabar precisando e não vai saber fazer! beijosss!!

  • camila

    obrigada, gente!! vou ver esse vídeo!

  • maquiagembr

    é porque eu consegui escrever errado duas vezes mesmo ¬¬
    muito monga.

    agora vai =)

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